sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Há um número de pequenas coisas



Andamos por todos os ventos na cidade. Alguém vai me salvar, – minhas vísceras já estão prontas. Eu repouso nos seus ombros mais secos, cuidando para não esfarelá-los. E assim eu faço cada dia. Não aceito nada menos que um não bem redondo na cara. O sol nasce sonoro, as estruturas do espaço amolecem com o calor. Eu colho suas palpebrazinhas, você me embala para dormir (sem sucesso). Doze bagres são nossos filhos e não sabemos como alimentá-los. Eu estou sonâmbulo até esse poste, mais alto. Vou amassar seus olhinhos para mim. O sofrimento é pequeno, infinito. E não adianta rir em silêncio, eu compactuo com minhas próprias ideias, executo todos os procedimentos sem hesitar. Desconheço outra forma de viver. Me concentro, psicografo enquanto os ovos cozinham, enquanto a coisa atravessa meu crânio. E, quando atravessa, eu não imagino outras possibilidades. Não há outra coisa que possa acontecer. Encolho minhas pálpebras em gratidão. Você está claramente sem reação, como se essa cena absurda fosse indissolúvel. mas você pode usar qualquer coisa para derreter esse gelo sobre meu colo: uma espátula, uma ostra fresca, uma betoneira. Enquanto experimentamos ainda mais o sol (os raios), os planetas continuam em pedaços. Mas eu piso em falso sempre que tento sair. Os pedaços estão disparatados. Apenas não recue, jamais. 

Por onde ele continua andando, eu entendo cada uma das flores depositadas. Vivemos dentro dessa tigela por tantos meses ou anos. Espero que renasçam todas as ervas, todos os pesos. Nada aqui pode fazer sentido, mas também, se algo fizer, será suficiente para destruir uma imagem? uma memória? não se sabe exatamente se toda lentidão foi construída ou rompida, despejada ou evaporada de antemão. Não troquei nenhuma palavra de manhã, nem a tarde. A flor desabrocha em meu ninho. Conquisto os próximos mares a pé, tremendo. Esqueço-me de todas as vezes em que fomos ao quintal, ao arbusto, em frente ao portão. Despedimo-nos antes que eu partisse a pé, eu poderia rastejar pelas ruas sem incômodo. fui embora pelo asfalto, passei pela janela, cobri os ossos, deixei de estar no temporal, cobri os pequenos animais que passavam. Não tem nenhuma importância estar vivo. Não tem problema e é agradável, eu me divirto com cada farpa. Nenhuma pessoa consegue observar, descrever o movimento, o próximo enquadro especial. Não deixo de observar suas sonolências. Você também não resiste de maneira particular. Não falo exatamente nada. Mas não acredite em nada do que está acontecendo, por favor. Eu também não acredito que você está aqui, e você esteve aqui o tempo todo. Eu agradeci e continuei seguindo pela estrada. Chegamos depois pela janela. Entrei, você riu e eu ignorei, como se ninguém tivesse existido na face da terra. Eu deveria estar aconchegado no meu ovo. Depois da longa viagem, chegamos e entramos pela janela. Eu vejo seu bico florescer. Não registro as próximas horas porque elas não passam a contar. Já desisti de todas as escoriações. Quando você resolveu meu braço, meu espaço oco. Não compreendeu nenhuma de minhas falhas como uma construção mole e macia. Vou começar a contar adiante os passos. Vou começar e peço que me ajudem: por onde você continua andando, carcomendo os cantos. Eu então dou um passo em falso. Você coloca suas patas em volta de mim, você sabe que eu não preciso de punição. Todas as próximas ostras estão recolocadas em um pardal, em um próximo fio ensolarado. Não existe nenhum método seguro para sobreviver. retorno para que possamos viver em ventos mais fortes, para que você possa abraçar minha cabeça. Mas se você chega, toca a campainha, entra até aqui sem minha permissão, eu olho cansado, não tenho claro para mim os meus procedimentos, aquilo que pretendo concretizar. Agora preciso de ajuda para reconstituir os passos. você sabe, no fim das contas, quem me tirou daqui? Quem foi levado até o próximo altar? Eu não soube de nada, eu mal retornei as ligações, e assim esperei que uma resposta melhor se formasse (e que viesse de mim, sobretudo). Ninguém sente a pálpebra salgada sem os ovos. Aqui fui depositado e não encantei ninguém. Fui celebrado até a próxima horda, até o próximo avestruz. Fui também silenciado por todos aqueles que entraram nessa casa e sentaram em torno da mesa, quietos, esperando que eu servisse a carcaça de um pardal. Esperando o próximo movimento ruim. Você entende? Desconheço as próximas aventuras. Se eu puder emprestá-los essa forma de viver, eles poderiam olhar. Eles nos olhariam com os beicinhos mornos, caídos? Ele é macio, está ressonando ao meu lado. não perdi a batalha ainda, mas quase. Estourei todos os legumes de uma só vez. Estou psicografando as cestas maiores, colocou o ovo dentro de mim. Mas os mortos não olham. Ah, mas então você também desistiu de todas as ostrinhas, e sem um ruído qualquer que pudesse denunciar a manobra. Derreteram-se os blocos de gelo sobre meu colo. Precisamos montá-los desde que você me conceda uma tarde inteira, sem sair. Não desisto. Já morri, mas queria deixar bem claro que não estou desistindo. Sigo em frente, com sangue nos olhos. Pulverizaram a estrada por onde preciso passar, e que doçura essa pedra rompida na qual tropeço e retropeço. Se você quebra sem querer meu crânio no percurso, eu não tenho do que reclamar. Os demônios me protegem dia e noite com muito cuidado. Carregam as vasilhas de água até a próxima estrada, na floresta, varrem a poeira para debaixo da porta, onde ela some. Sempre que necessário, arrebentam as teias de aranha recém tecidas, destroem todas as células e também os tumores. Agora minha ostra já está fraquinha. Meu deus do céu, eu me recuso. Eu me recuso a existir, e, ainda por cima, existir até quando? Por favor, assinale o calendário na parede. Peço encarecidamente para que, antes de ir, você assinale o calendário, me mostre o limite, o dia do juízo final enquadrado. Essa informação eu só não pude obter. As frestas se abrem para o abismo em flor. O abismo florido escapa por entre as folhagens, despejado. Sim, eu entendo as regras, eu recolho todos meus órgãos soltos pela sala antes de dormir. Todas as aves também secam a alvorada, e se você está aqui. Agora eu estou aqui descansando com meu melhor amigo, ao que ele olha a pomba no muro e eu pego no sono. Todas as convenções se tornam inúteis, pura perda de tempo. Cumprimos com o prometido. Não trouxemos nada que fosse muito pesado ou misterioso. Será que ele já mudou de ideia? Ou desistiram todos do meu pasto? Espera por uma mensagem que nunca vai chegar. 

Ontem ela chorou porque percebeu que vai continuar sozinha. frustraram-se as expectativas absurdas, e os outros planetas já estão em pedaços. Onde estão todas elas, em fileiras? Olhe as ostras no mar: é o próprio inferno. Os gatos dançam conforme a melodia, os pardais espasmam, todos os próximos bois caem do desfiladeiro. A história acaba simplesmente, sem fundo, e eu já estou pronto para submergir, eu que não fui sequer capaz de alegrá-los em uma tarde ruim. Telefono a ele – sem sucesso. peço para que, um ano depois, ainda não desista do meu pasto. Dias depois eu fui retirado. Dobramos todas as entradas para fora. A plantinha escondida no quarto. Sem assustar demais. A casa percorreu vazia. Ninguém soube encontrar seus lugares na mesa de jantar. Apalpei seus pés durante a noite. Nada foi devolvido com proporção, com justiça. Participei dos seus resíduos na festa. Estouros e luzes, com muita alegria pelos contos. Pessoas iam morrendo aos poucos. Refresquei os cantos de sua memória. Sem hesitar um descanso. Mas esse descanso e essa palavra – digo aqui enquanto sou entrevistado – é tudo o que há. Fracassei, minha pequena ostrinha. A história acaba sem que eu tenha sequer entrado nela e aproveitado um instante com os animais. Os vizinhos me veem e aplaudem, agora estou no auge, grito por existir. Estou descalço, porém. As folhas ainda invadem a calçada, até esse mês. Tardiamente, as folhas ainda invadem a calçada aos montes – eu amo vocês em silêncio. E seria adorável estar do outro lado. Ninguém olharia nenhuma sombra. Assim que desviássemos da rota, seria novamente um outono. Mas então onde está a coisa toda? Essa doçura está ao lado, não podemos nos importar. Aqui você já tem sua escovinha de dentes. Pronto para dormir. Todos consentiram com o final do meu universo. Nesses momentos de plenitude eu viro minha cabeça para o teto. Participo de todas as coisas que estão vivas. Eu recolho seus pedais que já estão mornos (eles podem precisar de mim). Eu explico que você é só uma criança assustada demais.