sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Um pesadelo e depois



Quantas coisas mortas caíram aqui alguma vez? Quais coisas serão ditas aos poucos? Quantas horas já são passado? Então. No dia seguinte recebemos uma desagradável visita dentro do sonho inofensivo. E ali capturam/acordamos em sobressalto. Passamos o dia inteiro com palpitações. Dói cada osso dentro da barriga. Resfria, espera e apaga. Príncipes todos sentados, esperando por uma resposta. Os gelos são coisas abertamente amassadas. Todas as ostras estão rosnando. Ao se contorcerem líquidas e grudentas, apontam para o tempo esvaziado que não recebeu um recheio apropriado para crescer. Muito além disso, a cartela de remédios vazia também denuncia a semana que esvaziou em um átimo de segundo. Quantas ostras estavam dentro de um pasto? Ao nos receberem na porta, eles olharam macios, calmos e receptivos. Eles não precisavam de nós. Na casa enorme, vigas de madeira sustentavam a festa inútil. Todos os parentes rodando como vespas sanguinárias, atraídos pelo cheiro do fracasso ou pela falta de sentido dos ossos? Rodando como animais, sorrindo e não farejando o abismo, eles mal percebiam que ali na fenda do mezanino era o abismo propriamente dito que acontecia. Cada um olhava e dizia nada por qualquer canto que passasse. Lá em cima estavam os três bastante ocupados com suas próprias travessuras. eles não precisavam de nós. Uma dor nos ossos já antiga mas estranhamente colérica e elétrica voltou. Um pardal pousou no travesseiro molhado e caiu em cima. Quantos havia ali dentro? Era uma festa de aniversário simplesmente? Andávamos sem rumo e ninguém percebia. Ninguém percebia uma hora marcada aberta ou fechada sem extrações. Sem areia no pátio. Sem nódulos crescendo nos vasos. Cada coisa inspira um poste que poderia descer sonoro, ainda que não valha a pena para nada. Como as duas avelãs enterradas na tigela de cereal. Era a festa de aniversário que perdemos e que de outro modo fomos obrigados a participar. Voltou em sobressalto, estourou em cada cômodo da casa, pelas vigas de madeira, conversas agitadas, todos sentados ouvindo e olhando na televisão. Eles não pressentiam o desastre? Por que estavam todos ali? Pois se estávamos apegados a uma falsidade constrangedora... Não se deve admirar alguém que só confirma falsamente. Pois sim. Assim que se é. Todas as ostras de uma vez só. Mas quando for chegada a hora – então. Afinal, se de outro planeta entrassem em contato conosco, responderíamos no mesmo instante? Ou demoraria anos e séculos até que apenas uma nuvem de poeira seca trouxesse o som surgido das bocas mortas? Afinal, as coisas só foram boas porque existiram(?). Quantas horas (no total) já são passado? Apenas desfaça os nódulos, arranque as pontas do cordão, traga de novo um feixe de luz e cubra de terra as urtigas. Existe algo que poderia ser revertido? Para que pudéssemos ver a festa de aniversário na televisão, sem comparecer? Ou o que? Uma concha pode ser recheada com todo o assombro e colocada no forno até esturricar. Não há mais nada que se possa fazer, pois, com essa quantidade de assombro, a única opção é rechear a concha e assar até esturricar. Traga também as palmeiras e fatie uma a uma. Espalhe por cima o cascalho sombrio, seco e sincero. Ninguém está aqui. O que acontecia lá em cima para qual não fomos convidados? Uma festa dentro de outra festa? O que acontecia até existir? As malditas ostras sumiram com o cuidado. Quantas lembranças existem que poderiam ser convertidas em qualquer coisa? Ou apenas em um cuidado suave? Todo morcego baixa. Vamos deixar as coisas mais afastadas do centro. É tão frio que talvez esteja vindo o cometa? Horas frias recobrem cada um dos cadáveres e esperam. Em todo tempo decorrido até agora, cada coisa caía no momento em que era empurrada até em cima para ficar. Agora não existe. Amedrontados por termos recebido deles a mesma indiferença que demos a nós mesmos. Nossas vozes sequer conseguiam competir umas com as outras. Em outro sonho, porém, toma-se o táxi em vez do carro, e qual o propósito? Não se sabe. E não é passado. Agora o passado é só a ponta apagada de um sonho.


E depois. Recuperando-se aos poucos, guardando cada coisa em um bolso diferente. Quantas coisas mortas caíram alguma vez aqui? Então a lembrança foi diluída e desativada e o pequeno urso apareceu saltando. Ele trouxe consigo um bolo macio que dividimos ao longo de dias/esperou com um pequeno rosto redondo durante noites sem cessar. Um mar rosa espumou e apareceu. Você me olha e sabe? O que houve foi apenas um assombro? Se foi mesmo, rimos desesperados até cair no sono e roncar. Os processos estão desorganizados. Me ajude a tirar a coisa com a pinça. Ajude a desorganizar cada fatia arranjada. Para que possamos sentar no caos sem cerimônia. Cada pedaço quebrado de vida é preciso amar. Mas por favor, utilize a pinça para tirar cada coisa do lugar. Depois o mar chegou até aqui. Me ajude a desorganizar os blocos cinzentos que empilhei ao longo de anos/desorganize e me ajude a chegar a lugar nenhum. Me ajude a desviar de meu caminho, me ajude a me perder com cuidado e paciência. Agora rodando com outras frações de tempo. Suspirando devagar. Cuidando para que as horas voem vagarosamente para que possamos enquadrá-las uma a uma até sentir. “Virgínia parava um instante para que não acontecesse ter confiança demais e avançar”. Alguém mais está aqui. É preciso não cobrir de palavras as coisas para não contaminá-las. O que levaremos de presente além de um vidro de crisântemos em conserva? Não importa. Deixamos o tempo aberto em todas as pontas para não esvaziar. Algumas horas (ainda) não são passado. É preciso lembrar de não colocá-las junto na conserva para não impedi-las de brotar, e de romper o fio fino que recobre a malha presa aos ossos para que também o diafragma possa inflar novamente e alimentar as horas por mais alguns anos, e assim por diante.