domingo, 22 de julho de 2012

Acerto de contas

 
- Por que o tempo tinha de passar desse jeito? Queria que você fosse criança para sempre. Aquela criança tão linda, tão meiga, que bebia carpex, shampoo.

- Sim.

- Foi muita irresponsabilidade de sua parte deixar o tempo passar dessa forma.

domingo, 15 de julho de 2012

Salvação pela cultura

 
 
Estou cada dia mais convencido de que nossa única salvação provém da cultura. Ao menos para mim, todas as outras possibilidades não se sustentam ou pouco se sustentam. Não podemos nos apoiar sobre a nossa “natureza humana” que, se de fato existe, é sem sombra de dúvida degenerada e mesquinha. Poderíamos certamente nos apoiar na religião, pois esta é um meio através do qual o homem se expressa culturalmente. Só que há um problema: nós já fomos avisados sobre o desencantamento do mundo, e sabemos que nada mais há de mágico ou sagrado nos céus, na natureza e muito menos nas construções humanas que promovem alguma espécie de espiritualidade. Nós poderíamos então dispensar as construções humanas corruptas e falíveis e nos apoiar em algum deus ou alguma forma de espiritualidade. Só que também fomos avisados sobre a passagem para o materialismo, e sabemos que os espíritos são abstrações, meros produtos do processo de reprodução material da sociedade, e que a divisão entre corpo e alma é ela mesma uma mitologia, um reflexo da divisão de trabalho.

Mas se o apoio de uma força divina infinita está fora de questão, a força humana das pessoas de nosso convívio social é também falível e finita, bem como nós mesmos somos falíveis e finitos. Por isso, não podemos tomar as pessoas como base e também não podemos tomar a nós mesmos como base (embora tenhamos de fazer as duas coisas em algum grau, pois somos seres sociáveis e o nosso auto-reconhecimento depende profundamente do reconhecimento do outro). Com isso, nosso fundamento não pode residir nem em nós mesmos, nem nos outros, nem na natureza e nem em Deus.

Só nos resta a cultura (ou as drogas). Quando falo em cultura, não designo algo muito específico. Falo em cultura como algo que nos alivia para continuarmos vivendo e envelhecendo. Simplesmente o fato de um filme, livro, música ou peça de teatro contribuir para preencher nossos dias miseráveis e ocasionalmente nos tornar seres humanos melhores. Além é claro da força política, subversiva e às vezes até revolucionária que os bons produtos culturais possuem.


Mas e se alguém disser: “a cultura também é ilusória”? Pois eu concordo plenamente. Pois e o que não é ilusório? De qualquer forma sabemos que temos que criar nossos próprios produtos para preencher nossos vazios. Eu não tenho problemas em admitir que a crença na natureza, em Deus, nas pessoas, em nós mesmos, na cultura, no trabalho, na energia dos chacras, no amor, na ciência, na filosofia, na homeopatia, etc. são todas ilusórias enquanto produções de um ser humano falível e finito. Todas elas são tentativas de salvação pessoal. Seja por alienação da realidade, seja por imersão real em seus contextos.
 
Eu sei que o termo “salvação” é bastante teológico e destoa da orientação ateia do meu texto, mas eu insisto em utilizá-lo, pois acredito que o homem é um bicho tosco, insignificante e neurótico, e precisa de uma salvação, só que de uma salvação mundana, pela cultura.
 
 
Esse texto que eu acabei de escrever, por exemplo, é ele mesmo uma tentativa de salvação pela cultura. Ele também é ilusório, pois tenta colocar um fundamento lá onde ele mesmo sabe que não há qualquer fundamento válido. O meu texto sabe que o único fundamento válido é a morte. Mas ele recalca isso para poder continuar a viver, ele faz de conta que há algo com o qual ele pode combater a morte, e que é a cultura. Ainda que ele saiba que não há nada no mundo que possa contra a morte, e que o máximo que a cultura pode realmente combater é o tédio e a ignorância. Que às vezes são piores que a morte.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Um sonho absurdo: galinha de camiseta

 

Fui a um sítio e encontrei uma moça chamada Cristina. Ela lavava o bico de uma galinha que vestia uma camiseta azul. A imagem da galinha de camiseta me alegrou e me espantou. Havia também três cachorros muito bonitos. Eu perguntei a ela o nome deles e ela me respondeu: “Drei Studien zu Hegel”.