sexta-feira, 16 de setembro de 2016

ostracismo nº1



É muito solitário. A coleta dos pequenos animaizinhos que agonizam, as memórias abstratas que não coincidem com nada, a travessia percorrida sem cessar. Que bom que algumas ostras são trazidas para dentro do ombro, e as outras se desmancham na maré. O que traz para dentro da ostra a possibilidade de um pequeno desastre? A ostra no colo está devidamente enxugada, é claro? Guardamos pacientemente todas elas nas caixinhas, que serão veladas pelos fantasmas que moram no quintal. Olhe para os fantasmas, e cada rosto está em branco. Quando o eco vaza e desestabiliza a atmosfera nauseante, então esse acontecimento é absolutamente real. Mas quando uma ostra rosna dentro de alguma das pequenas caixinhas, é só resquício de um sonho ruim. Não há razão para lamentar ou sofrer. São só ostras trêmulas dentro de caixinhas, como nós mesmos no interior de uma morte. Por qual poro podemos sair? Digam-nos, apontem-nos a saída. E desde que haja uma saída, eu pago o que for preciso, por isso digam a ela. É preciso que se dê o recado. Se formos cuidadosos, então. Eventualmente, uma raiz branca brota com violência. Aqui a cobertura tem a textura de uma planta porosa. Sem sequer respirar, as células tremem e quase implodem. A respiração é agradável, incômoda e finita. Cada ostra tem um pequeno talo que não precisa ser retirado. Nenhuma memória coincide com nada. Basta que se puxe o talo da ostra pelo avesso, pois invertidas elas ocupam completamente o espaço sem que se precise adicionar coisas ou acontecimentos ou pessoas como acompanhamento, é uma tranquilidade.